segunda-feira, 29 de abril de 2019

Bicho de estimação que não come ração

Creio ser universal que a fofura dos animais desperta nossa porção meiga (embora os psicopatas discordem). Então, como o povo tupiniquim anda pra lá de ranzinza, resolvi compartilhar algumas criações inspiradas nos bichos para ver se melhora o humor na aldeia dos “Polarizadus Insanus”. 

Venha ver essa boniteza. Integrá-los à decoração não é nenhum bicho de 7 cabeças. Coisa mais fácil desse mundo, única dificuldade pode ser o “money que é good nóis no have”.

Banco Indígena do Brasil: Tamanduá Mehinaku

Luminária Horse Lamp. Criação de Front Design e executada pela Moooi. A peça tem o tamanho real do animal. 

Mesa Capivara de Henrique Steyer.


Coleção Sending Animals do designer Marcantonio Raimondi Malerba executada pela Seletti. 

Mancebo Árvore Generosa de Pedro Useche, produzido pela Schuster.

Mesa lateral Traccia da alemã Meret Oppenheim, produzida pela Cassina.

Mesa Hippo de Mark Stoddart.

Luminária Grue Lumineuse de François-Xavier Lalanne.

Banco Eames Elephant do casal Charles e Ray Eames, produzido pela Vitra.

Para encerrar, aproveitando a deixa do banco em forma de elefante, segue um poema do Carlos Drummond de Andrade:

O Elefante 

Fabrico um elefante
de meus poucos recursos.
Um tanto de madeira
tirado a velhos móveis
talvez lhe dê apoio.
E o encho de algodão,
de paina, de doçura.
A cola vai fixar
suas orelhas pensas.
A tromba se enovela,
é a parte mais feliz
de sua arquitetura.

Mas há também as presas,
dessa matéria pura
que não sei figurar.
Tão alva essa riqueza
a espojar-se nos circos
sem perda ou corrupção.
E há por fim os olhos,
onde se deposita
a parte do elefante
mais fluida e permanente,
alheia a toda fraude.

Eis o meu pobre elefante
pronto para sair
à procura de amigos
num mundo enfastiado
que já não crê em bichos
e duvida das coisas.
Ei-lo, massa imponente
e frágil, que se abana
e move lentamente
a pele costurada
onde há flores de pano
e nuvens, alusões
a um mundo mais poético
onde o amor reagrupa
as formas naturais.

Vai o meu elefante
pela rua povoada,
mas não o querem ver
nem mesmo para rir
da cauda que ameaça
deixá-lo ir sozinho.

É todo graça, embora
as pernas não ajudem
e seu ventre balofo
se arrisque a desabar
ao mais leve empurrão.
Mostra com elegância
sua mínima vida,
e não há cidade
alma que se disponha
a recolher em si
desse corpo sensível
a fugitiva imagem,
o passo desastrado
mas faminto e tocante.

Mas faminto de seres
e situações patéticas,
de encontros ao luar
no mais profundo oceano,
sob a raiz das árvores
ou no seio das conchas,
de luzes que não cegam
e brilham através
dos troncos mais espessos.
Esse passo que vai
sem esmagar as plantas
no campo de batalha,
à procura de sítios,
segredos, episódios
não contados em livro,
de que apenas o vento,
as folhas, a formiga
reconhecem o talhe,
mas que os homens ignoram,
pois só ousam mostrar-se
sob a paz das cortinas
à pálpebra cerrada.

E já tarde da noite
volta meu elefante,
mas volta fatigado,
as patas vacilantes
se desmancham no pó.
Ele não encontrou
o de que carecia,
o de que carecemos,
eu e meu elefante,
em que amo disfarçar-me.
Exausto de pesquisa,
caiu-lhe o vasto engenho
como simples papel.
A cola se dissolve
e todo o seu conteúdo
de perdão, de carícia,
de pluma, de algodão,
jorra sobre o tapete,
qual mito desmontado.
Amanhã recomeço.